"The smallest minority on earth is the individual. Those who deny individual rights cannot claim to be defenders of minorities." Ayn Rand

sábado, março 17

A mais velha aliança do mundo

Nos dias que correm é muito fácil falar mal do futebol português. A isso não será alheio o processo apito dourado, mas o que se tende a esquecer, é que se há corrupção no futebol português (e eu não tenho dúvidas de que esta existe), esta não começou agora ou nos últimos anos, já vem de há muitos anos atrás. Ao contrário de muitos que vêem no apito dourado a prova de que o futebol bateu no fundo, eu digo que quanto muito, é a prova de que o futebol português pode estar a preparar-se para sair do fundo. Porque no fundo, há muito que já havia batido.
A década de oiro do futebol português foi a de 60. Com a vitória do Benfica nas 2 Taças dos Campeões Europeus, e a vitória do Sporting na Taça das Taças. Foi também a década do Eusébio e do terceiro lugar no mundial de futebol. Parecia uma década não possível de repetir.
A década de 70 não deixa muitas recordações. O Benfica manteve o dominio absoluto nas competições domésticas, mas em termos internacionais perdeu fulgor. A selecção, pouco ou nada fez de que nos possamos orgulhar.
Na década de 80 o futebol português voltou a sorrir. Uma ida da selecção às meias finais do campeonato da Europa, a 2ªparticipação da selecção no mundial de futebol, e várias finais das competições europeias disputadas quer pelo FCPorto, que iniciava a sua caminhada ao topo do futebol mundial, quer pelo Benfica - há quem se esqueça que as finais de 1988 e 1990 da Taça dos Campeões foram disputadas pelo Benfica. Desda década fica, como melhor recordação, a primeira Taças dos Campeões Europeus ganha pelo FCPorto.
A década de 90 é a década do descalabro do futebol português. Livrou-se do descalabro um clube: o Futebol Clube do Porto. O FCPorto desta forma dominou a seu belo prazer as competições domésticas, mas no panorama internacional pouco, ou nada, fez. A este facto não será alheio os maus periodos do Sporting e do Benfica. Sem competição interna, era dificil ao FCPorto manter-se competitivo no exterior. Maior exemplo desse descalabro, e digo-o a muito custo dada a minha paixão pelo Benfica, é um famoso jogo em Vigo com 7 golos marcados pela equipa espanhola.
Em 1999 o Sporting regressa aos títulos, e acaba com o dominio do FCPorto. Entramos então no ano 2000 num novo panorama. Um panorama onde as SAD's dominam e o futebol deixa de ser só paixão, entram em campo os projectos empresariais.
O Sporting liderou a corrida à gestão profissionalizada. O FCPorto deixou-se ultrupassar, embora rapidamente tenha apanhado o ritmo. O Benfica parecia irremediavelmente fora da corrida. Entretanto aparece outro facto: o Euro 2004. A modernização do futebol português leva um novo empurrão, era chegado o tempo dos centros de estágio e de novos estádios.
Num país com tão boa mão-de-obra, com tanto talento para o futebol, alguns resultados teriam de aparecer. E apareceram.
2002/2003: O FCPorto ganha a taça UEFA, o Boavista foi eliminado nas meias-finais desta mesma competição.
2003/2004: O FCPorto ganha a Liga dos Campeões. Nunca ninguém sonharia em tal feito à entrada do século XXI. Afinal bastaram uns míseros 3 anos para tal acontecer.
2004/2005: O Sporting vai à final da Taça UEFA. E o Benfica reafirma o seu surgimento de volta ao topo do futebol português, sagra-se campeão nacional.
2005/2006: O Benfica chegou aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Apesar de tudo o pior anos dos 4 até aqui analisados.
2006/2007: O Benfica chega aos quartos-de-final da Taça UEFA e ainda pode continuar em prova.
Em 2000 a selecção portuguesa atingiu as meias-finais do campeonato da Europa. Em 2002 fomos ao Mundial e correu-nos mal. Em 2004, em Portugal, sagramo-nos vice-campeões da Europa. Em 2006 ficamos em 4ºlugar no campeonato do Mundo de futebol.
Apesar do apito dourado, eu diria que o futebol português está bem e recomenda-se. O apito dourado diz mais sobre a justiça que temos, do que sobre o futebol que temos. A justiça corre mal, já o futebol, pelo menos nos relvados, está como nunca esteve. Porventura, estamos perante um período do futebol português semelhante ao vivido na década de 60.
E o período actual só não é melhor do que o vivido na década de 60 porque não temos um Salazar. E a velha aliança mais antiga do mundo está a funcionar muito bem. Os ingleses, coxos e toscos como sempre foram, podem não perceber patavina de futebol, mas percebem muito de gestão. E souberam vir buscar a um país com pouco mais de dez milhões de pessoas, quatro pessoas apenas que revolucionaram o futebol nas ilhas.
Em Inglaterra está o melhor técnico do mundo, José Morinho. O melhor defesa central do mundo, Ricardo Carvalho. Um dos melhores técnicos na gestão de jovens futebolistas que conheço, Carlos Queirós. E o melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo. Não é mera coincidência que sejam os quatro portugueses. Agora, imaginem um mundo com Salazar no poder e estes quatro a jogar no campeonato português. Ah, pois é, bébé...

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