Há várias formas de sentir o Benfica, de ser benfiquista. A forma como eu vivo o Benfica é uma delas.
No universo do glorioso, certamente também há muita gente que se diga Benfica, e que era capaz de ter a atitude que alguns adeptos do F.C.Porto tiveram esta noite. Dirão que tal atitude só foi possível dado o facto de terem sido enviados para o quarto anel (agora não são três, são quatro) do Estádio da Luz. Ora bolas, só em Portugal é que sabemos que existem vandalos à priori, e somos coniventes com esses mesmos vandalos. Como outras coisas na vida, cada um é responsável por si, e mais ninguém é responsável pelas suas atitudes - nem as mesmas devem ser desculpabilizadas por factores externos. A solução é simples, ou o Benfica pode pôr os adeptos dos outros clube onde muito bem entende, sem que estes causem desacatos, ou os adeptos desse clube não tem lugar no estádio.
Se quando os adeptos de um clube, no seu próprio estádio, fazem desacatos, issso leva à interdição do recinto desportivo desse clube, então, a situação contrária também deverá ser possível. Se são os adeptos do outro clube a causarem os desacatos, deverá ser possível ao clube detentor do estádio, não permitir o acesso ao estádio desses mesmos adeptos - pelo menos no que diz respeito às claques organizadas.
Já em muitos jogos do SLB vs FCP tive adeptos azuis e brancos ao meu lado. Uma vez inclusive chegamos a trocar vários comentários sobre o jogo - no tal jogo do golo do Petit não assinalado com frango do Vitor Baia. Não andamos à porrada, não chamamos nomes uns aos outros - nada. Até trocamos elogios à equipa adversária. Eu realçando o mérito do espirito portista, eles realçando a capacidade de alguns talentos individuais do Benfica. Ao contrário do que muita gente pensa, é totalmente possível assistir a um jogo de futebol sentado junto aos adeptos da equipa adversária. Devo confessar que no Dragão nunca me sentei junto da massa portista, mas em Alvalade já, por algumas vezes, e nunca fui mal tratado - cheguei mesmo a pular com um golo do Jankauskas em Alvalade quando os leões pensavam que iam fazer a festa de campeões nacionais naquele dia.
A minha melhor história em Alvalade, é mesmo com Boloni a treinador, e Jardel já mal amado. Fui para o estádio a fazer-me passar por sportinguista, e consegui por várias vezes comentar que já só faltava a Boloni pôr o Ricardo a ponta-de-lança e o Jardel a guarda-redes para completar o ramalhete. Diverti-me imenso. O pior foi que dei dinheiro a ganhar ao adversário - comprei o bilhete, e nem foi num jogo contra o Benfica. Mas tive a lata de no final do jogo - um empate, hi... hi... - de dizer a alguns adeptos que podiamos já não ficar à frente do Benfica, mas que iamos ao jamor vencé-los - o Benfica jogava então no estádio emprestado do Jamor, e lutava com o Sporting pelo 2º lugar - de facto, mais tarde tive resposta, o Sporting ganhou-nos mesmo.
Lembro-me que pelo Benfica uma vez fui de madrugada para a bilheiteira arranjar o famoso bilhete para a final da taça de Portugal contra o FCPorto, aquela que vencemos com um golo de cabeça do Simão, e cujo lugar no estádio do Jamor era tão mau, que me obrigou a assitir o jogo de pé, com um sol abrasador, e que me deixou com uma dor de cabeça insuportável - apesar de alegria tremenda.
Curiosamente, mal me recordo da compra do bilhete para a inauguração do novo estádio da Luz, mas sei que estive lá. O lugar garantido foi numa das laterais - se a Sagres ou a Coca-cola, já não me recordo.
Tempos de loucura... tempos de estudante em Lisboa. Mas o que guardo com mais saudade, e lembrei-me disso por causa deste post da serotonina, é dos periodos antes dos encontros no estádio da Luz. O petisco antes do jogo - normalmente envolvia gambas e febras. A imperial para animar a malta. A deslocação à catedral do consumo antes da ida à catedral do futebol. No Colombo, dava-se a conquista do centro comercial por adeptos benfiquistas. O cachecol envolto no pescoço ou enrolado à volta da mão. A ida ao último piso, onde encontrava-se a Lusitânia ou a Portugália, para arranjar a tão preciosa bebida. O sentar numa das mesas para absorver a panorâmica envolvente com a loira a escorrer-nos pela garganta abaixo. O grito do SLB glorioso, ou um ainda mais inesquecível, de Ninguém pára o Benfica. O jogo em si nem era o mais importante, porque fosse qual fosse o resultado, no final eu seria sempre Benfica.
Quando o Benfica foi campeão, não estive no Bessa, mas fui para o estádio da Luz festejar - no entanto não é um dia que me recorde tanto quanto isso. Recordo-me muito mais de um determinado jogo no estádio da Luz, onde o Benfica empatou 2-2 com o Sporting, com golos do Jardel, um de penalty inventado - depois desse, o jogo que melhor me recordo é do tal do frango do Baia e do golo do Petit, não assinalado pelo árbitro. Como alguém uma vez disse, as vitórias são para festejar, mas as derrotas são para recordar.
Hoje o meu Benfica empatou. Foi como se de uma derrota se tratasse. No entanto fizemos jogo para ganhar. Nada a apontar. Não vi nenhum programa desportivo, nem conto ver. Apenas quero ver o Benfica campeão no final da época, nem mais, nem menos.
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