"Tivesse ele sabido do sofrimento mortal de todos os homens e mulheres que por acaso tinha conhecido durante todos os seus anos de vida profissional, da história penosa de desgosto, sofrimento e estoicismo, de medo, pânico, isolamento e pavor de cada uma dessas pessoas, tivesse ele sabido de todas as coisas, até à mais insignificante, que elas tinham deixado para trás depois de em tempos terem sido estruturalmente suas, e da forma sistemática como estavam a ser destruídas, e teria sido obrigado a ficar ao telefone o resto do dia e pela noite fora, fazendo pelo menos mais cem chamadas. A velhice não é uma batalha; a velhice é um massacre."
Já lido, e altamente recomendado. Quando neste post disse que ia devorar os dois livros no fim de semana, menti. Menti porque o tempo não me permitiu tal feito. Fiquei-me pelo livro de Roth. Podia também ter mentido na parte do "devorar" - qualquer um dos autores é novidade para mim (leitor mais assíduo de clássicos), e embora as criticas fossem boas, já me desiludi frequentemente com obras que cometeram a proeza de sobreviver ao passar do tempo. Lembro-me de começar a ler um dos Trópicos (Capricórnio ou Câncer, não me recordo) de Henry Miller e ter desisitido logo nas primeiras páginas. Mas com Everyman (titulo original) de Roth verificou-se aquele click que torna a leitura mágica -o começar a ler e não mais querer parar. De tal forma que o A Conspiração contra a América já está na lista para ler a seguir (sim, é defeito, se gosto de um autor tenho de ler mais do mesmo - se bem que pelo que li este Todo-o-Mundo fugia um bocado ao habitual em Roth - logo descubro). Mas entretanto há uma caminhada entre um pai e um filho num mundo algures entre o Mad Max e o Dawn of the Dead para acompanhar:Philip Roth, Todo-o-Mundo, Publicações D.Quixote, pp. 154-155, tradução de Francisco Agarez.
Sim... não duvidem... também é para "devorar"..."Vamos, disse. O rapaz voltou a cabeça e olhou para o carrinho pela derradeira vez e depois seguiu-o em direcção à estrada."
Cormac McCarthy, A Estrada, Relógio d'Água, pp. 69-70, tradução de Paulo Faria
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