João Miranda, no DN (negritos meus):
Como os rankings mostram que as escolas mais bem classificadas são escolas privadas, os defensores da utopia da escola pública são forçados a alegar que os resultados das escolas privadas se devem à origem socioenonómica dos seus alunos. Dizem que o meio socioeconómico influencia mais os resultados que a qualidade da escola. Reconhecem, em última análise, que, ao contrário do que diz a utopia, a escola pública está muito longe de anular os efeitos do meio socioeconómico.Os defensores da escola pública alegam ainda que as escolas privadas de topo têm melhores resultados porque seleccionam os seus alunos. Segundo eles, a escola pública é uma escola que não discrimina ninguém. Ora, este é mais um indicador de que o conceito de escola pública que defendem é utópico. A melhor escola para um dado aluno é aquela que tem, não apenas os melhores professores, os melhores métodos e as melhores instalações, mas também os melhores colegas. Nenhum pai quer que o filho tenha colegas que perturbam o ambiente escolar. As escolas melhores são aquelas que seleccionam os seus alunos. As escolas da utopia não podem fazer essa selecção e serão sempre medíocres. São os pais, os professores e o próprio Ministério da Educação os primeiros a recusar e a conspirar contra a utopia. Os pais mais bem informados tentam colocar os seus filhos nas escolas com o melhor ambiente socioeconómico. A formação de turmas de elite dentro das escolas públicas é uma prática comum. As políticas do Ministério da Educação levam os melhores professores para as escolas das zonas economicamente mais favorecidas. A utopia é irrealizável.
Como é costume o João Miranda vai ao cerne da questão, e refere aquilo que os defensores da utopia vêem, mas recusam aceitar - em nome de um conceito ideológico que não querem abandonar. É um facto que só posso falar da realidade que conheço e da minha experiência (bem como dos que me são mais próximos) do sistema escolar português, mas é prática a selecção dos melhores alunos por parte das direcções escolares para as primeiras turmas do alfabeto. Por onde passei, a turma A sempre foi a turma de elite, e da D para cima entrava-se no dominio do caótico. Existia inclusive rivalidade entre os professores do quadro pelas turmas que lhes calhavam - invariavelmente ficam com as primeiras letras do alfabeto - e era ver os pais no inicio do ano irem reclamar junto da direcção escolar sobre a turma onde o seu filho tinha sido colocado. Os bons alunos fogem para as melhores escolas, mesmo que tal possa custar uma nota interna mais baixa (mas garante uma melhor formação para aguentar a maior exigência do ensino superior - logo a começar pela garantia de uma melhor nota nos exames nacionais), enquanto os maus alunos preferem ficar na pior escola - que para compensar garante notas internas mais altas para o nível do aluno (é o instinto de sobrevivência da escola, ou comporta-se assim, ou corre o risco de ficar sem alunos). No fim, temos um sistema injusto, utópico, cheio de falsidade, e sem um sistema de avaliação decente - porque esta coisa das notas dos alunos nos exames nacionais revela alguma informação sobre o nível da escola, mas não nos diz tudo.
|