"Se todos os seres humanos, menos um, tivessem uma opinião, e apenas uma pessoa tivesse a opinião contrária, os restantes seres humanos teriam tanta justificação para silenciar essa pessoa como essa pessoa teria justificação para silenciar os restantes seres humanos, se tivesse poder para tal. Caso uma opinião constituísse um bem pessoal sem qualquer valor excepto para quem a tem, e se ser impedido de usufruir desse bem constituísse apenas um dano privado, faria alguma diferença se o dano estava a ser infligido apenas sobre algumas pessoas, ou sobre muitas. Mas o mal particular em silenciar a expressão de uma opinião é que constitui um roubo à humanidade; à posteridade, bem como à geração actual; àqueles que discordam da opinião, mais ainda do que àqueles que a sustentam. Se a opinião for correcta, ficarão privados da oportunidade de trocar erro por verdade; se estiver errada, perdem uma impressão mais clara e viva da verdade, produzida pela sua confrontação com o erro - o que constitui um beneficio quase igualmente grande." John Stuart Mill, Sobre a Liberdade
Gosto particularmente deste excerto do livro Sobre a Liberdade de Stuart Mill, livro esse que para mim seria interessante ter sido lido e compreendido por muito boa gente. Não é que exista uma obrigatoriedade de aceitar a posição defendida no livro, especialmente no que toca ao princípio do dano, mas a vertente da defesa da liberdade de expressão e opinião é muito forte e de dificil contraditório. Que se diga que "o lugar da mulher é na cozinha"; "a homossexualidade é uma doença"; "os negros são menos inteligentes que os brancos"; "o holocausto não aconteceu", etc... etc... pode não se enquadrar no pensamento dominante - e pode ser mesmo que o pensamento dominante seja baseado na verdade - mas não devem ser silenciados aqueles que digam o contrário.
Querer colocar à margem da sociedade aqueles que encaram a homossexualidade como algo ruim, é tão mau quanto colocar à margem da sociedade aqueles que são homossexuais. Acredito piamente que se a sociedade não silenciar ninguém, e permitir a confrontação saudável entre diferentes pontos de vista, mais facilmente se alcança a verdade - e aqueles que acreditam piamente na veracidade da sua posição não devem temer o confronto com a posição contrária.
Da mesma forma, não faz sentido que o Estado neste dominio tome posição por nenhum lado da questão, sobre forma de procurar usar da sua influência para alterar a sociedade a favor da opinião das pessoas que dominam o Estado (sejam eles conservadores, liberais ou progressistas).
Claro que neste momento o que se verifica é uma batalha entre diferentes sectores pelo controlo da influência do Estado sobre a sociedade. Por exemplo, no caso da homossexualidade, o Estado esteve durante muitos anos (e ainda está) claramente de um lado do debate.
Parece-me a mim que a solução não passa pelo Estado adoptar a agenda LGBT como sua, mas antes por deixar de adoptar a agenda conservadora (defesa da familia tradicional). A solução não passa pela aceitação do Estado do casamento entre homossexuais, mas pelo fim do casamento com o patrocinio do Estado.
No que diz respeito à partilha de direitos e deveres entre duas pessoas que se amam, que tal seja possível qualquer que seja a orientação sexual das mesmas, mas através de outro mecanismo que não o casamento (e repare-se que para os mais conservadores a instituição casamento não desapareceria, manteria-se viva através das várias Igrejas).
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