É inacreditável a quantidade de pessoas que partem de posições dogmáticas num debate de ideias - na prática, não debatem, discutem. Eles sabem tudo, os outros nada sabem. As ideias deles são sérias, a dos outros são para rir. Eles próprios mudaram de ideias, mas agora estão mais que certos, finalmente foi-lhes revelada a verdade. Aceitam que durante a vida as suas ideias mudaram, ou evoluiram, mas partem do pressuposto que agora já não evoluem - que a idade lhes garante um estatuto de profunda sabedoria e razão, sobre a qual não se pode criar o minimo espaço para dúvidas.
Nunca leram qualquer grande filósofo dos tempos modernos ou passados, mas há muito que julgam compreender os problemas que se colocam ao mundo e ao ser humano. Há quem só tenha lido a Biblia e julgue já ter obtido todas as respostas para as suas dúvidas. Há quem surpreendentemente nunca tenha lido Marx, e julgue mesmo assim encontrar no comunismo a solução para os problemas do mundo. Há uma superioridade moral que se propaga por boa parte dos portugueses de que cada um deles é depositário da solução para os problemas do mundo, mas a maior parte mal sabe enfrentar os problemas da sua própria vida - quanto mais os do mundo.
Poderão dizer que eu não passo de um desses portugueses - e se assim é, penitencio-me - mas digo-vos caro leitor, aqui nem tão cedo se vão encontrar soluções finitas e perfeitas para o mundo em que vivemos, apenas opiniões as quais este tipo que as escreve vai moldando à sua experiência de vida e ao que vai lendo.
No fundo, há muito que duvido da arte e do engenho de alguns seres humano para encontrarem soluções perfeitas para vida de todos os seres humanos. Um sinal de falta de fé no ser humano? Ora, nada disso. Uma fé absoluta de que cada um de nós é capaz de saber melhor o que fazer da sua vida do que outros. Eu fico com as minhas opiniões, o caro leitor fica com as suas - ninguém impõe é a sua opinião ao outro. Como diria o grande mágico do cinema Clint Eastwood, "Everyone leaves everyone else alone."
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