A equipa de ciclismo da Astana, que liderava colectivamente o Tour, decidiu abandonar esta tarde a Volta à França, na sequência do anúncio do controlo anti-doping do seu líder, o cazaque Alexander Vinokourov, que revelou a prática de uma transfusão sanguínea homóloga.
Tempos houve em que o ciclismo era o meu segundo desporto favorito - logo a seguir ao futebol. Em Portugal vibrava com os ataques de Joaquim Gomes na Serra da Estrela durante a volta a Portugal, enquanto na volta à França sempre preferi os trepadores - especialmente Richard Virenque ou Marco Pantani. Nem imaginam o quanto vibrei com a vitória em 1998 de Pantani sobre Ullrich na volta a França. Esse Tour - o de 1998 - teve a melhor etapa de ciclismo que eu alguma vez assisti, com uma vitória de etapa de Pantani na alta montanha em condições atmosféricas adversas e em que Ullrich ficou a mais de 8 minutos de distância.
Mas 1998 também marca o inicio do descalabro. Foi este o primeiro Tour marcado por escandalos de doping: o caso de doping da equipa Festina - escandalo esse que deixou três dos melhores ciclistas da altura, Virenque, Alex Zulle e Laurent Dufaux, de fora do tour de 1998. Não posso deixar de pensar que, já na altura, Pantani ganhou a volta a França e conseguiu fazer aquela etapa fantástica porque estava dopado - Pantani que viria a ser apanhado no ano a seguir nas malhas do doping.
Depois disso ainda acompanhei de perto as vitória de Armstrong. Mas a coisa já não era a mesma. A vitória de Roberto Heras na volta a Espanha, e o caso de doping que se lhe seguiu, bem como a vitória de Floyd Landis no último Tour, com todo o caso de doping que se lhe seguiu, retiraram quase todo o meu interesse pela modalidade.
Este ano voltei a dar uma espreitadela à coisa. Mas não está melhor. Vinokourov é apanhado nas teias do doping, e o camisola amarela actual, Michael Rasmussen, está suspenso pela federação dinamarquesa por ter faltado a dois controlos anti-doping seguidos.
Bjarne Riis disse à pouco tempo que tinha vencido o Tour de 1996 tendo recorrido a substâncias dopantes. Um verdadeiro exemplo de coragem. Temo, para tristeza minha, que não consiga acreditar que qualquer um dos vencedores do Tour nos últimos anos não estivesse dopado - inclusive Lance Armstrong. Dói-me ver o estado a que chegou a modalidade.
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