"The smallest minority on earth is the individual. Those who deny individual rights cannot claim to be defenders of minorities." Ayn Rand

sábado, abril 14

The Last King of Scotland

"His Excellency President for Life, Field Marshal Al Hadji Doctor Idi Amin, VC, DSO, MC, Lord of All the Beasts of the Earth and Fishes of the Sea, and Conqueror of the British Empire in Africa in General and Uganda in Particular"
O Último rei da Escócia é um bom filme com uma grande representação de Forest Whitaker. Normalmente, não gosto de considerar representações de personagens reais como merecedoras de óscares, dado que é relativamente mais fácil a um bom actor adaptar um papel real ao grande ecrã, do que iniciar de base a construção de uma personagem e dar-lhe aparência real. Nos últimos tempos a Academia tem sido particularmente sensível aos papéis que retratam personagens reais: June Carter, Ray Charles, a Rainha Elizabete II, Aileen Wuornos, Truman Capote, e Idi Amin. Para mim, nenhum destes óscares foi tão merecido quanto o de Forest Whitaker e do seu Idi Amin.
No que toca ao filme realmente dito, o mesmo começa por apresentar-nos Idi Amin como um grande líder, acabado de chegar ao poder, que conta com o apoio do seu povo. Isto leva um jovem estudante de medicina escocês - destacado para ajudar aqueles que realmente importam: o povo que sofre diariamente - a entusiasmar-se com a figura de Amin e com as suas promessas de modernização do Uganda. Amin promete um novo hospital central ao jovem Dr. Nicholas Garrigan, e alicia-lhe com a importância de tal projecto, capaz de trazer ao seu povo uma melhoria imensa das condições de saúde. Tal proporcionaria ao jovem Nicholas a hipótese de fazer mais por aquele povo em sofrimento, do que qualquer que fosse o seu trabalho no campo médico da pequena povoação onde exercia. A opção de pôr-se ao lado de Amin torna-se então irresistível.
Só a paixão recente pela médica Sarah Merrit, que teria de ser quebrada, põe dúvidas a Nicholas - nunca, mas mesmo nunca, as pessoas que ficariam sem a sua preciosa ajuda na pequena aldeia onde trabalhava são tidas em conta na sua decisão. Como Idi Amin uma vez sintetiza quando confrontado com a possibilidade de Nicholas não aceitar o cargo que este oferece: é "uma mulher" que bloqueia tudo. Mulher essa que é a primeira a alertar Nicholas para a inevitabilidade do que aí advém, quando relativamente a Idi Amin e ao apoio popular que este apresenta diz: "com o outro que lhe antecedeu foi o mesmo".
O resto do filme é um desenrolar de acontecimentos que levam Nicholas a aperceber-se da verdadeira face de Amin, um homem que foi responsável pela morte de aproximadamente 300 mil ugandeses.
O filme termina com o retrato do famoso sequestro de um avião da Air France por um grupo de palestinianos que procuravam com tal facto forçar o governo israelita a libertar prisioneiros da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Amin cedeu o aeroporto internacional de Entebbe para os terroristas aterrarem e daí o próprio Amin prestou-lhes auxilio - todos os que não eram israelitas ou judeus foram libertados, tendo os restantes ficado retidos. Tal sequestro foi terminado abruptamente com o ataque supresa dos comandos israelitas que libertaram todos os reféns, excepto quatro que acabaram mortos. Um dos reféns, Dora Bolch, encontrava-se, na altura do ataque dos israelitas, no hospital, e suspeita-se que tenha sido assassinada por ordem directa de Idi Amin.
É neste filme que mistura a ficção (a história de Nicholas) com a realidade (Idi Amin) que é feito um dos retratos mais cruéis aos regimes africanos, nomeadamente daqueles que vivem constantemente sobre os ombros de homens divinais, que falam muito em nome do povo, mas que a única coisa a que aspiram é ao poder supremo.
No entanto, nos últimos tempos, e sobre o continente africano, continuo a preferir o filme Hotel Rwanda, que dará amanhã na RTP às 22:30, e que recomendo a todos os que ainda não viram.
Nomeadamente porque Hotel Rwanda traduz outra história bem conhecida dos ocidentais. E leva-nos ao esquecimento a que o continente africano e os crimes que por lá se produzem tem sido sujeitos. Num mundo onde tudo centra-se no conflito israelo-palestiano, à guerra do Iraque, ao Irão, etc... é normal que ninguém faça protestos pelo que acontece em Darfur nos dias de hoje.
Idi Amin matou cerca de 300 mil pessoas. No Rwanda terão morrido entre 500 mil a 1 milhão de pessoas. No Sudão já lá vai em cerca de 400 mil pessoas mortas.
Mas as indignações e as manifestações de revolta, como tudo na vida, só estão voltadas para um lado. Para o lado onde se possam mandar as culpas para cima das costas largas dos americanos. Mesmo porque os problemas de África, na sua maioria, são originários dos processos colonizadores dos povos europeus - e longe destes, irem agora embrulhar-se na lama para resolverem os problemas por eles criados.

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