Uma das coisas que me fascina na opinião sobre os Estados Unidos de muitas pessoas, é o seu sentido de ajuda para com os americanos - o que por si só, revela em certa medida, como ainda os tomamos por nossos amigos. Porque só a um amigo, é que estamos tão prontamente dispostos a ajudar.
No dia em que nos States é feito um atentado brutal com armas de fogo, logo nos prontificamos a explicar-lhes que o mal está na sua legislação permissiva sobre a posse de armas de fogo. Da mesma forma, não falta aqueles que decidem apoiar o amigo, explicando que a legislação destes até não será o seu maior problema, nem a explicação para o problema ocorrido.
Ficamos então a saber que os portugueses (e os europeus, já agora) gostam de discutir os problemas internos dos americanos, e que certamente, só porque não podem, é que não votariam nas eleições para a eleição do futuro presidente norte-americano.
Eu nem me estou a colocar como excepção... aliás, se há coisa que gosto de discutir, é sobre o modo de funcionamento da sociedade americana. Só estou a pôr as coisas em perspectiva.
Se podessemos, de livre vontadade, muitos de nós abdicávamos secretamente do nosso voto nas eleições nacionais se, em contrapartida, nos concedessem a possibilidade de votar em alguém que realmente pode mudar as coisas no mundo.
Isto porque, de um modo geral, poucos acreditam que o voto nacional sirva para mudar aquilo que realmente nos devia interessar: as nossas condições de vida e o futuro das gerações futuras.
Num país very very boring como o nosso, onde tudo é cinzento, e onde os politicos muito prometem e pouco fazem. Onde a discussão sobre a União Europeia, por exemplo, é quase posta de lado - e esta nos dias de hoje influencia mais a minha vida do que um qualquer governo eleito (basta verificar como os últimos governos ficaram reféns do Pacto de Estabilidade e Crescimento) - é normal que as pessoas virem-se para outras discussões, e achem normal, num país com tantos problemas como o nosso, focar o debate público em torno dos problemas de outros.
Pior que isso, o debate sobre os outros, gira, invariavelmente, sobre os seus problemas e sobre aquilo que têm de mau. Mas já que gostamos tanto de falar sobre os outros, era bom que também viesse à baila o que os outros têm de bom (e há tanta coisa) - e que aprendessemos algo com eles.
Dizemos que os americanos não sabem onde fica Portugal, acredito... afinal de contas, e pelo que sei, ainda não surgiu nenhuma noticia na imprensa norte-americana a dar destaque aos casos internos que tem abalado o nosso pequeno pais. É a vida. Nós, tão bons amigos, logo nos prontificamos a reflectir em conjunto com os nossos amigos sobre os seus problemas, e eles, maus amigos, não nos ligam nenhuma...
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