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Na minha rua houve um tempo em que os telefonemas anónimos para a GNR eram a norma para multar o carro do vizinho mal estacionado. Sim, também uma vez paguei uma multa referente a tal situação. Curiosamente a GNR vinha e multava especificamente o carro sobre o qual tinha sido apresentada queixa - na minha rua, mesmo assim, seria possível encontrar mais alguns carros mal estacionados e merecedores de multa. Mas a GNR vinha e só multava o carro sobre o qual tinha sido apresentada queixa. Os próprios policias queixavam-se que compreendiam que à falta de estacionamento, e que sobretudo no verão quando os carros no Algarve aumentam exponencialmente, tinha de existir alguma tolerância para com os estacionamentos, mas que tendo sido apresentada queixa, eram obrigados a agir. Nos últimos tempos, segundo a informação que consta, deixaram de responder às queixas vindas do(s) cidadão(s) da minha rua sobre veiculos mal estacionados.
Há uns tempos, outro vizinho meu lembrou-se que parte da via pública à frente da casa dele - do outro lado da rua repare-se - devia estar sempre desocupada de veiculos. Isto porque o homem tem uma garagem (que não é bem uma garagem, é mais uma invenção à boa moda portuguesa) e a mesma - dado ser uma invenção - exige muito espaço de manobra para o veiculo conseguir lá entrar. Vai daí, contactou a autoridade em causa, e garantiu que fosse pintado um traço amarelo em frente à sua garagem, do outro lado da rua, atente-se. Podem dizer-me que o homem terá razão. Afinal de contas reabilitou um espaço para garagem, e agora não o poderia usar. O problema é que o mesmo homem continua invariavelmente a deixar o seu veiculo fora da garagem. É assim.
Mas a última, e mais genial, foi a de outro vizinho - nem imaginam o quanto adoro os meus vizinhos. Decidiu também que o espaço em frente à casa dele é só dele - este não tem amigos junto à autoridade, logo, decidiu ser ele próprio a autoridade. Vai dai, pegou em duas estacas, demarcou o espaço em frente à sua casa, e colocou fita de sinalização a sinalizar que alí o espaço é reservado ao dono da casa. Genial.
A rua é de todos, mas há quem queira a rua só para eles - e a influência sobre a autoridade é o meio mais utilizado para garantir uma rua feita à imagem e semelhança da rua ideal de cada um. O país é de todos, mas há quem queira um país só para eles.
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