"The smallest minority on earth is the individual. Those who deny individual rights cannot claim to be defenders of minorities." Ayn Rand

domingo, julho 22

Um país só para mim

Na rua onde moro - à qual já me referi aqui - cada um pensa que a rua é sua, e utiliza a estratégia que mais lhe convém na imposição das suas regras à rua de todos nós. O pequeno mini-mercado que ainda existia na minha rua vai fechar - em parte porque já não tinha muitos clientes, mas não só. Recentemente, a câmara municipal lembrou-se que para a proprietária fazer a venda das garrafas do gás - um dos poucos serviços prestados pelo mini-mercado que me era extremamente útil, e que já é feito à anos - a câmara tinha de receber uma generosa compensação financeira. Isto porque as garrafas, que ficam naturalmente no exterior do edificio, ocupam parte do espaço público. Muito bem.

Na minha rua houve um tempo em que os telefonemas anónimos para a GNR eram a norma para multar o carro do vizinho mal estacionado. Sim, também uma vez paguei uma multa referente a tal situação. Curiosamente a GNR vinha e multava especificamente o carro sobre o qual tinha sido apresentada queixa - na minha rua, mesmo assim, seria possível encontrar mais alguns carros mal estacionados e merecedores de multa. Mas a GNR vinha e só multava o carro sobre o qual tinha sido apresentada queixa. Os próprios policias queixavam-se que compreendiam que à falta de estacionamento, e que sobretudo no verão quando os carros no Algarve aumentam exponencialmente, tinha de existir alguma tolerância para com os estacionamentos, mas que tendo sido apresentada queixa, eram obrigados a agir. Nos últimos tempos, segundo a informação que consta, deixaram de responder às queixas vindas do(s) cidadão(s) da minha rua sobre veiculos mal estacionados.

Há uns tempos, outro vizinho meu lembrou-se que parte da via pública à frente da casa dele - do outro lado da rua repare-se - devia estar sempre desocupada de veiculos. Isto porque o homem tem uma garagem (que não é bem uma garagem, é mais uma invenção à boa moda portuguesa) e a mesma - dado ser uma invenção - exige muito espaço de manobra para o veiculo conseguir lá entrar. Vai daí, contactou a autoridade em causa, e garantiu que fosse pintado um traço amarelo em frente à sua garagem, do outro lado da rua, atente-se. Podem dizer-me que o homem terá razão. Afinal de contas reabilitou um espaço para garagem, e agora não o poderia usar. O problema é que o mesmo homem continua invariavelmente a deixar o seu veiculo fora da garagem. É assim.

Mas a última, e mais genial, foi a de outro vizinho - nem imaginam o quanto adoro os meus vizinhos. Decidiu também que o espaço em frente à casa dele é só dele - este não tem amigos junto à autoridade, logo, decidiu ser ele próprio a autoridade. Vai dai, pegou em duas estacas, demarcou o espaço em frente à sua casa, e colocou fita de sinalização a sinalizar que alí o espaço é reservado ao dono da casa. Genial.

A rua é de todos, mas há quem queira a rua só para eles - e a influência sobre a autoridade é o meio mais utilizado para garantir uma rua feita à imagem e semelhança da rua ideal de cada um. O país é de todos, mas há quem queira um país só para eles.

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