Parte do que será o mundo nos anos vindouros está dependente do resultado das eleições norte americanas. Os Estados Unidos só por eles não conseguem mudar o mundo, mas o mundo não muda sem os Estados Unidos. Durante o século XX houve duas vertentes de abordagem à politica internacional, uma mais intervencionista (segunda metade do século), outra mais isolacionista (na primeira metade do século). Não é por acaso que em nenhuma das duas grandes guerras - ambas provocadas pelas potências europeias - houve adesão imediata dos norte-americanos. Em ambas foi preciso um motivo para se dar a intervenção: no caso da primeira o ataque alemão ao navio RMS Lusitania onde seguiam 128 americanos a bordo bem como todo o processo ligado ao telegrama de Zimmermann; no caso da segunda o ataque japonês a Pearl Harbor.
Na segunda metade do século os Estados Unidos adoptaram uma politica mais intervencionista, mesmo porque sentiam-se em guerra com a União Soviética. A politica do medo sempre foi uma abordagem interessante para quem quer forçar a adesão popular a projectos dispendiosos (neste caso inclusive com perda de vidas humanas). A guerra do Vietname aparece como o maior exemplo do intervencionismo norte-americano em plena guerra fria. As intenções foram as melhores - não duvido - mas terá feito sentido aquilo tudo? No fim, o resultado de tal guerra foi tudo menos positivo, e aqueles que os americanos se propunham a derrotar, acabaram por sair vencedores. O motivo? Em pouco tempo os jovens americanos que lá estavam a arriscar com a própria vida perceberam que não tinham um motivo real a que se agarrar para acreditar no que faziam - o medo do tentáculo comunista de pouco lhes valia.
Curiosamente, o grande império do mal comunista cairia sem que fosse necessária qualquer guerra. O regime caia de pôdre e vergava-se perante a superioridade do mundo ocidental capitalista replecto de abundância.
A primeira intervenção no golfe pérsico é mais fácil de justitifcar. O Iraque invadia o Kuwait e a intervenção justitificaria-se. Mas George W. Bush pai parou a tempo. Com os soldados iraquianos remetidos ao seu lugar, o Iraque, a guerra podia ser dada como terminada - os iraquianos que resolvessem os seus problemas por sí - e o ocidente que não concordava com Sadham que cortasse relações com este.
A primeira intervenção no golfe pérsico é mais fácil de justitifcar. O Iraque invadia o Kuwait e a intervenção justitificaria-se. Mas George W. Bush pai parou a tempo. Com os soldados iraquianos remetidos ao seu lugar, o Iraque, a guerra podia ser dada como terminada - os iraquianos que resolvessem os seus problemas por sí - e o ocidente que não concordava com Sadham que cortasse relações com este.
Mas uma nova politica começou a apoderar-se da cabeça dos estrategas norte-americanos: a de que com a guerra conseguiam fazer a paz ou, mais que isso, com a guerra conseguiriam transformar o mundo numa big happy family replecta de paises democratas. Começou com Bill Clinton e a intervenção no Kosovo (um problema ainda por resolver) e atingiu o apogeu com George W. Bush júnior. Este último, motivado pelo 11 de Setembro, encontrou a justificação para invadir não um, mas dois paises. E se no caso do primeiro a coisa ainda podia justificar-se, era uma reacção a um ataque (é preciso não esquecer esse facto); a segunda pouca justificação teve. Resultado: os soldados norte-americanos que arriscam a vida no Iraque também não encontram um motivo real para justificarem a sua presença por aquelas zonas - o medo do tentáculo terrorista de pouco lhes vale.
Talvez seja a altura dos Estados Unidos voltarem à politica não intervencionista da primeira metade do século XX. Uma politica mais voltada para a reacção do que para a acção. É verdade que o 11 de Setembro foi uma acção que justificava uma reacção, mas aquela que lhe foi dada não se mostrou justificada. É que eu tenho muito a agradecer aos americanos pela sua participação nas duas grandes guerras mundiais (com especial foco na segunda), mas muito pouco a agradecer-lhes pelo que fazem no Iraque (e da parte mais interessada, os iraquianos, também não parece haver muito agradecimento). Da mesma forma, os soldados americanos que combateram nas grandes guerras voltaram a casa com sentido de dever cumprido e orgulhosos da batalha em que tinham participado, mas esse sentimento, à imagem do que se notava com os soldados que lutaram no Vietname, não se encontra naqueles que arriscam a vida no Iraque, pois não?
O meu candidato favorito nos Estados Unidos dá pelo nome de Ron Paul, mas dada que a vitória deste é dificil e à falta de candidatos no campo republicano que tenham percebido a mudança de paradigma que a má administração Bush impunha ao seu campo, não vejo outra alternativa se não estar aqui neste cantinho do outro lado do atlântico a torcer por Barack Obama.
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